Localização
Freguesia: Glória
Rua/Lugar: Praça da República
Local Original: Sim
Identificação
Designação: Estátua de José Estevão
Data de colocação: 20 Julho de 1889;
Inauguração: 12 de Agosto de 1889
Efeméride: Homenagem da cidade ao tribuno
Promotor
Nome/Instituição: Comissão promotora da construção da estátua, constituída por cidadãos aveirenses
Caracterização
Autor: José Simões de Almeida (1844-1926)
Oficina: Arsenal do Exército (Lisboa), actual Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento
Materiais: Bronze e mármore
Descrição
Estátua de bronze de corpo inteiro em pose de tribuno, segundo V. Nogueira “a postura que registou, a altivez da coerência revem-se na solidez do bronze”. Assenta num pedestal de secção quadrangular, em pedra mármore, ostentando, nas suas quatro faces, várias inscrições alusivas ao homenageado.
Inscrições no Pedestal
frente:
1809 – 1862. A José Estêvão Coelho de Magalhães. A cidade de Aveiro. 12 de Agosto de 1889.
lado direito:
Discursos: Profissão de fé; Porto Pireu; Suspensão de Garantias; Charles et Georges; Irmãs da Caridade; Defesa do Jornal Legitimista; O Portugal Velho.
posterior:
Serviços a Aveiro: Melhoramentos da Barra; Lyceu; caminho de ferro; iniciação da viação pública.
lado esquerdo:
Feitos militares: Defesa da Serra do Pilar, 13 e 14 de outubro de 1832 / Flecha dos mortos, 25 de Julho de 1833 / Revolta de Torres Novas, 1844 / Revolução popular, 1846 – 1847.
Epígrafes e coroas honoríficas
frente:
* Coroa em bronze com a inscrição: A José Estêvão Coelho de Magalhães. Agosto. O Grande Oriente Lusitano Unido. 1889.
* Epígrafe, em mármore, com brasão da cidade e inscrição a capitais em bronze: A José Estêvão Coelho de Magalhães no centenário da sua morte. Homenagem do Povo de Aveiro e seu município 1862 – 1962.
lado direito:
* Coroa em bronze com lista com a inscrição: A José Estêvão Coelho de Magalhães. Em nome da liberdade. Os aveirenses rezidentes em Lisboa. 1889.
posterior:
* Coroa em bronze com lista com a inscrição: A José Estêvão Coelho de Magalhães / A Sociedade de Recreio Artístico 1809 – 1909.
* Epígrafe talhada em forma de livro, em mármore, com a inscrição:
Folha esquerda -“... para mim é um grande absurdo isto de religião da maioria. A religião é da consciência e na consciência não há maioria nem minoria...” José Estêvão, Discurso Parlamentar de 9-7-1861 / “Proletários de todo o mundo uni-vos” Karl Marx.
Folha direita – Ao grande orador liberal José Estêvão Coelho de Magalhães e à cidade de Aveiro. / recordação da visita dos operários portuenses em excursão promovida pelo Grupo de Propaganda da Fraternidade Social em 11 –8-1901.
lado esquerdo:
* Coroa de bronze com a inscrição: Os estudantes de Aveiro a 12 do 8 de 89 (assinatura: M P Azevedo).
* Coroa de louros em bronze com a inscrição: A José Estevam, 26 – XII – 1809 / A Maçonaria do Porto, 26 - XII – 1909 (assinatura da oficina: Fundição Campo do Bou, Porto)
Historial
José Estevão Coelho de Magalhães nasceu a 26 de Novembro de 1809, na Rua dos Mercadores, em Aveiro, e aqui começou os seus estudos. Deixou a sua cidade natal para cursar Direito em Coimbra, vindo a revelar-se um brilhante aluno universitário. Nos clubes políticos da academia e, seguindo os passos de seu pai, Luís Cipriano, começou a proferir os seus primeiros discursos, a favor da revolução liberal vintista, contra o Absolutismo.
Devido aos acontecimentos políticos da época que se faziam sentir por todo o país, em 1826, interrompeu o seu curso e alistou-se no Batalhão de Voluntários Académicos, tal como fizeram Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Em 1828 o Vintismo sofre o último dos grandes golpes de Estado dirigido por D. Miguel, então aclamado rei absoluto em vários pontos do País. A Carta Constitucional, que D. Pedro outorgara aos portugueses, em Abril de 1826, deixa de vigorar, mas os defensores do Liberalismo ainda estrebucham, assistindo-se a levantamentos populares e militares no Porto, Aveiro, Coimbra, Algarve e Terceira (Açores). As forças liberais acabaram vencidas, obrigando José Estevão a fugir para a Galiza e dali para Inglaterra, onde os liberais portugueses procuram reorganizar-se.
Em 1829 embarca com as forças militares para os Açores, onde redige a Chronica da Terceira. Mais tarde, participa, activamente, na defesa da cidade do Porto, onde em 1833, se bate corajosamente pela tomada do Covelo e, posteriormente, da Flecha dos Mortos2. Como reconhecimento dos seus feitos, o Imperador D. Pedro condecora-o com o grau de Oficial da Torre e Espada.
Em 1834 termina a guerra civil com a vitória liberal e José Estevão retorna os estudos em Coimbra. O soldo de militar servirá então para financiar a sua formatura, bem como a de seu irmão António Augusto. Édispensado da frequência do 5º ano, em 1836, e, por proposta de alguns amigos, substitui o pai no Parlamento. O Homem que defendia os seus ideais com as armas passa agora a defendê-los com a palavra, tornando-se reconhecido como um tribuno notável. Algumas das suas intervenções ficariam, aliás, memoráveis na história do parlamentarismo português.
No entanto, não se limitou apenas ao Parlamento, na imprensa também se revelou uma pessoa bastante íntegra e coesa no uso da palavra. Ajudou a fundar o jornal O Tempo (1838) e foi também membro criador, juntamente com o seu conterrâneo Manuel Mendes Leite, em 1840, do Revolução de Setembro (jornal guardião dos ideais setembristas). A par da carreira militar, política e jornalística, acumulou, também, a de professor do ensino superior, tendo leccionado Economia Política, Direito Administrativo e Comercial, na Escola Politécnica de Lisboa.
Segundo Rangel de Quadros, em 1837 foi eleito deputado pelo círculo de Lisboa passando, a partir de 1851, a sê-lo por Aveiro (excepto em 1855, que o foi novamente por Lisboa). Como tal, demonstrou um grande interesse nas questões da sua região, conseguindo obter empreendimentos e melhoramentos bastante significativos para o seu desenvolvimento: construção de várias estradas; de um telégrafo eléctrico; edificação do liceu; obras na Barra e alguns consertos no cais; passagem da linha férrea do norte pela cidade, entre outros.
Em 1856, José Estevão casou com Rita de Miranda. Desta união, apenas sobreviveu Luís de Magalhães, visto os seus outros filhos terem falecido na infância.
Ainda que comprometido com a política, a partir de 1858 dedicou-se à Maçonaria da qual, passado quatro anos e embora não por muito tempo, se tornou Grão Mestre da Confederação Maçónica Portuguesa. Em Novembro desse mesmo ano ficou gravemente enfermo vindo a falecer dias mais tarde.
Apesar da sua morte ter ocorrido em 1862, apenas em 1864 os seus restos mortais foram transladados do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, para o Cemitério Central na sua terra natal. O evento revelar-se-ia uma forte manifestação de apreço pelo ilustre benfeitor de Aveiro e representaria, nas palavras do historiador local Marques Gomes, a grande cerimónia de inauguração da estação de caminhos de ferro que começara a funcionar no mês anterior.
As cidades de Lisboa e Aveiro, como homenagem ao desempenho do grande tribuno, edificaram estátuas em sua honra. A primeira, em Lisboa, no largo das Cortes, foi inaugurada por Jerónimo de Morais Sarmento, a 4 de Maio de 1878, tendo sido retirada em 1935 e reposta novamente a 15 de Outubro de 1984.
Quanto à de Aveiro sabemos que, em 1880, foi eleita uma comissão que viria a ser responsável por erigir a estátua e que o seu autor foi José Simões de Almeida. As obras de assentamento da estátua foram dirigidas por Manuel Homem de Carvalho Christo. Aliás, aquando a colocação da primeira pedra no monumento, a 8 de Maio de 1882, realizara-se uma primeira cerimónia.
Em Agosto de 1888 a estátua encontrava-se a ser fundida no Arsenal do Exército (Lisboa) com bronze que o Estado português oferecera através de concessão por Lei de 3 de Junho de 1882. Em Abril do ano seguinte, foi transportada por via férrea para Aveiro. Desde o seu desembarque, na a estação de comboios, até ao largo municipal, foi acompanhada por um cortejo em que participaram várias bandas de música e a Charanga da Cavalaria 10. Ao longo do percurso foi lançado fogo de artifício. A estátua foi colocada no seu actual local no dia 20 de Julho, mas a sua inauguração decorreria, apenas, a 12 do mês seguinte. Para o efeito realizou-se outro cortejo cívico pelas principais artérias da cidade organizado segundo o esquema das comemorações do III centenário de Camões. Ao longo do tempo a estátua viria a ser enriquecida com várias placas epigráficas e coroas honoríficas.
Além da estátua, a cidade decidiu colocar, também, uma placa comemorativa na casa onde nasceu e à rua, onde se ergue esse edifico, dar-lhe o seu nome.
José Simões de Almeida – nasceu em 1844, em Figueiró dos Vinhos e faleceu em Lisboa, a 13 de Dezembro de 1926. Conhecido por Simões de Almeida (Tio), caracteriza-se como escultor neoclássico. Aos 21 anos de idade completou o curso de Belas Artes com alta classificação, em Lisboa. Leccionou as disciplinas de Desenho e Escultura, depois de regressar a Portugal, em 1881. Foi professor da Academia Real de Belas Artes contribuindo para a formação de escultores contemporâneos, tais como: José Simões de Almeida (sobrinho); Maximino Alves; Costa Mota e Costa Mota (sobrinho).
“Puberdade”, “A Estátua do Duque da Terceira”, o Génio da Vitória”, Monumento aos Restauradores e Luís de Camões (no Clube Figueiroense) são as peças que mais se destacam da sua obra.
Bibliografia
Povo de Aveiro, Aveiro (1882-1889).
Nogueira, V. (1993). José Estevão na Tribuna da vida, Boletim Municipal de Aveiro, n.22. pp.33-36.
Carvalho, M. José Gonçalves. José Estevão Coelho de Magalhães, http://www.prof2000.pt/users/secje/HIST2.HTM. [conferido a 8-11-2004].
Rangel de Quadros (2000). Aveirenses notáveis. Apontamentos históricos, Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro.
Freguesia: Glória
Rua/Lugar: Praça da República