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Albergaria-a-Velha recordou as grandes indústrias do passado
área de conteúdos (não partilhada)As antigas Fábricas Alba, de Valmaior e Caima, que tiveram um importante papel no desenvolvimento do Concelho nos séculos XIX e XX, foram ontem recordadas na palestra O Património Industrial em Albergaria-a-Velha. Inserido nas comemorações das Jornadas Europeias do Património, o evento decorreu na Biblioteca Municipal e contou com um painel de oradores de várias áreas de investigação.
Através da análise de antigas fichas dos trabalhadores da Alba, Raquel Varela verificou uma relação estrutural entre Albergaria-a-Velha e a empresa, uma dependência em muito devida à grande percentagem de pessoas que viviam junto da fábrica. Num país conservador e rural, com uma grande população analfabeta, a Alba possuía já trabalhadores semiqualificados e, para a historiadora, isso explica porque a empresa nunca deixou o Concelho e desenvolveu um importante papel social e cultural. O sucesso da empresa deveu-se muito ao “saber fazer” dos seus trabalhadores, que usufruíam de reais condições de mobilidade interna, o que permitia reter os melhores e mais especializados. O trabalho de investigação de Raquel Varela sobre a História económico-social da Alba vai dar origem a um livro, a ser apresentado em Albergaria-a-Velha no próximo ano.
Numa abordagem diferente, realizada no âmbito de uma tese de mestrado, a engenheira civil Cláudia Redondo partiu do património degradado de uma antiga empresa – a Fábrica de Valmaior – para propor uma nova função estratégica para o espaço. Após uma caracterização do edifício atual, foram apresentadas cinco possíveis soluções para o reuso das instalações – espaço multifunções; centro de formação/escola; galeria de exposições; área comercial; e incubadora de empresas. De acordo com os resultados aferidos através da aplicação de um questionário junto de diferentes profissionais, como arquitetos, políticos, engenheiros ou empresários, constatou-se que a solução que reunia mais consenso foi a de espaço multifunções e para coletividades.
Na segunda parte da palestra, a Fábrica do Caima esteve em destaque com três apresentações diferentes. O investigador Jorge Custódio encontrou nas minas de chumbo e cobre do Palhal e do Carvalhal as raízes da posterior Fábrica de Pasta de Papel, que se instalou nas margens do rio Caima no final do século XIX. Como as minas exigiam muita madeira para garantir a segurança nas galerias – que no caso da mina do Palhal podiam descer mais de 300 metros de profundidade – foi necessário adquirir grandes manchas florestais na zona. No entanto, com os problemas ambientais e sociais a surgirem, as minas tornaram-se muito “caras” para gerir. Tendo em conta as grandes propriedades entretanto adquiridas, a solução apresentada para rentabilizar o investimento foi criar uma fábrica de pasta para papel.
E quem foram as pessoas por trás do desenvolvimento deste novo projeto? A arqueóloga Sofia Macedo traçou um retrato dos britânicos que marcaram o desenvolvimento da Fábrica de Pasta de Papel do Caima, com especial incidência em William Cruickshank e na família Bergqvist. Dadas as antigas relações comerciais entre Portugal e o Reino Unido, houve sempre uma comunidade próspera de britânicos no Porto e foi através de contactos pessoais realizados na Feitoria dos Ingleses daquela cidade que os primeiros gestores estrangeiros entraram no negócio da Fábrica do Caima. Criada em 1888 em Inglaterra, com o nome The Caima Timber Estate and Wood Pulp Company Limited, a empresa teria sempre uma forte presença de estrangeiros na sua administração.
Do social para a área técnica, as apresentações sobre a Fábrica Caima finalizaram com uma abordagem da importância das máquinas a vapor no desenvolvimento do negócio. Susana Pacheco afirmou que a empresa foi inovadora na produção de eletricidade através do vapor, que não era muito comum em Portugal. Por outro lado, a reutilização do desperdício decorrente do processo de produção para combustível também permitiu concluir que a fábrica sempre soube tirar partido do melhor que as tecnologias da época tinham para oferecer.
A palestra O Património Industrial em Albergaria-a-Velha, moderada pelo Vice-Presidente do Município, Delfim Bismarck, encerrou com um momento de debate.