- Início
- Municípios
- Águeda
- Éramos Crianças Felizes e Divertidas! - Maria Melo
Éramos Crianças Felizes e Divertidas! - Maria Melo
área de conteúdos (não partilhada)
Vivi num parque temático, chamado Valongo do Vouga: a quinta da minha avó.
O colorido da paisagem era o da natureza. Eu não sabia, mas a verdade é que todos os dias era um dia novo e cheio de aventuras. Com ou sem pessoas era sempre uma festa.
A casa tinha uma sala de visitas onde havia uma porta grande que dava para um corredor largo e comprido. Em frente ficava o quarto do tio Zé. Este tinha duas portas, a da entrada e outra onde o tio tinha colocado a cabeceira da cama. Do outro lado da porta era o meu quarto. Encostada à porta, havia uma cómoda enorme. Colocava uma cadeira em cima da cómoda do meu quarto para ouvir e ver grandes concertos de piano ou violino, através da vidraça superior da porta, que era transparente.
Tinha lugar cativo no primeiro balcão do meu próprio quarto!
Assistia a concertos sem pagar nada!
O tio Zé tocava só para mim e para ele!
Começava pelo piano, depois pegava no arco do violino e a música fluía.
Certo dia adormeci acocorada na cadeira, embalada pela música.
Lá fora, na quinta, havia um grande jardim zoológico, dois aquários, um pombal, uma casa de terror e até um inferno!
Tinham sido construídos grandes galinheiros onde podiam entrar os animais, tais como pássaros, porcos, galinhas, coelhos, perus, faisões, pavões e, ainda, pessoas, tanto miúdos como adultos.
Até havia uma figueira lá dentro, que não conseguia dar folhas nem figos - os excrementos dos animais não deixavam que ela se desenvolvesse.
A avó dizia que os pássaros, de todas as cores e espécies, vindos de longe, tinham atravessado o Atlântico. Nenhuma das aves se sentia presa, pois os galinheiros eram tão grandes que até eu, lá dentro, me sentia num mundo a perder de vista. Corria atrás das galinhas e patos para os apanhar e acariciar. Gostava tanto!
Os pavões eram tão privilegiados como eu, tinham toda a quinta para eles, incluindo os telhados. Corria atrás deles e, sempre que era possível, roubava-lhes uma pena. Um dia, a avó disse-me que eles precisavam muito das penas, que tirar-lhes uma pena significava que menos um bebé pavão nascia.
Achei estranho o que me dizia e, ainda hoje, quando vejo penas de pavões nos chapéus e nas jarras, penso em quantos bebés pavões terão deixado de nascer. Os aquários, cheios de peixes vermelhos e brancos, situavam-se no jardim. Havia dois. Um muito grande que servia de tanque de rega, o outro, que ficava mais perto da casa, tinha pontes e, até, um chafariz, que nem sempre deitava água.
Certo verão, no tanque da rega, aprendi a nadar, com a ajuda de uma bóia improvisada pelo Meireles, com uma câmara de ar do carro da avó.
A casa de terror era a casa preferida de toda a criançada.
Era muito escura e tinha um alambique de cobre, muito brilhante e que fazia gluglu com eco.
Escondíamo-nos por detrás das pipas e gritávamos a quem passasse perto. O susto, provocava risos e gritinhos.
Éramos crianças felizes e divertidas! O inferno era uma invenção que eu criara para intimidar os meus amigos da aldeia.
Na realidade, o inferno era apenas a casa do forno, onde se cozia pão diariamente e onde se fazia sopa para dar a quem por lá passasse e tivesse fome ou mesmo só vontade de comer.
Sempre que se acendia o forno para cozer o pão, saíam de lá labaredas iguais às que o padre mandava fazer em santinhos para distribuirmos por quem se portava mal. Eu portava-me muito mal na quinta, mas nunca guardei nenhum santinho do inferno. Porém, maldosamente, distribuía-os e dizia que o inferno era ali na casa do forno.
Mais tarde, visitei a Disney.
Curiosamente, nunca consegui encontrar nada que me encantasse e divertisse tanto como a fantasia que inventei na quinta da minha avó, em Valongo do Vouga.
BIOGRAFIA
Maria Antónia Martins de Melo Sereno
Ocupou parte da sua vida na área de trabalho técnico.
Aos 50 anos decide alterar o seu rumo.
Após algum tempo de reflexão, matriculou-se na Sociedade de Belas Artes em Lisboa na disciplina de Desenho.
O desejo de aplicar cor aos seus desenhos, obrigou a uma procura de materiais variados, fazendo a sua aplicação de forma autodidacta, sem regras prévias, dando liberdade ao pensamento, encontrando efeitos novos e criativos.
Mais tarde, inscreveu-se na Escola de Arte St. Lucas Academie em Gent-Bélgica .
Em 2009, frequentou a Escola António Arroio, em Lisboa, sob a orientação do mestre Eurico Gonçalves na temática “A Arte descobre a criança"” que concluiu com grande entusiasmo .
Fez uma passagem feliz junto do mestre Gustavo Fernandes, onde pintou e desenhou com gosto. Também frequento a Academia Superior de Belas Artes de Gent, como estudante livre na categoria de Pós-graduação.
A atenção dada aos seus trabalhos por professores e amigos levam-na a expor em Portugal, Bélgica e Holanda.
Desenha e pinta diariamente utilizando as técnicas aprendidas e as que vai descobrindo ao longo da sua dedicação por amor à arte.
Exposições
2006 Galeria Fonte Figueira, Alentejo
Galeria Exclusive, Carnaxide
2007 Galeria Edições Campos, Lisboa
Galeria Corte Inglês, Lisboa
Galeria The Fashion Cathedral Antuérpia, Bélgica
2008 Galeria Club dos Empresários, Cartaxo
Galeria Orfeu, Bruxelas
2008 Galeria Espaço Thuiszorg Amesterdão
2009 Galeria Espaço KorenleiTwee, Gent
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
2010 Galeria Espaço La Provence, Gent
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
2011 Espaço Hangar, Belém
2012 Salão Nobre da Soc. De Belas Arte, Lisboa
Espaço Hangar, Belém
2013 Apresenta o livro de desenhos “ Em Trânsito” , Forte de São
João do Estoril,
Art Gallery Alphonse D’Heye em Knokke Zoute, Bélgica
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
2014 Centro Histórico de Oeiras, “ENSEMBLE” Galeria Verney
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
2015 Exposição “ Des gens comme nous autres”, na Comunidade
Europeia CESE, Bruxelas
2016 Casa do Alentejo, Lisboa
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
2017 Galeria Pirilampo, Monchique
2017 Galeria Embaixada, Lisboa
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
2018 Centro de Artes de Agueda -CAA Agueda
Galeria Kellerwlliams, Carnaxide
Salão Nobre da Soc. de Belas Artes, Lisboa
Sala Estúdio | Todos os Públicos | Entrada livre